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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Turismo, os primeiros anos do Terceiro Salto.

Turismo, os primeiros anos do Terceiro Salto

por Domingos Leonelli
Agora que o novo Secretário de Turismo, deputado Nelson Pellegrino, foi empossado num ato de grande significado político e profissional, sinto-me à vontade para publicar o que penso ser uma avaliação positiva dos sete primeiros anos do governo Wagner. E também do que deixou de ser feito.

Politicamente o grande mérito do governo Wagner foi viabilizar o turismo como política de estado preservando estruturas e saberes acumulados por outras gestões.

A formulação estratégica do Terceiro Salto do Turismo da Bahia, desenhada em nossa administração justamente com uma política de Estado, está consolidada na Lei Estadual do Turismo. Essa lei é fruto da participação de todo o trade turístico, de técnicos renomados, de profissionais, de dirigentes municipais do turismo e representantes de órgãos estaduais reunidos no Fórum Estadual de Turismo, fortalecido pela presença do Secretário em todas as suas reuniões.

A estratégia do Terceiro Salto reconhece a existência de dois grandes saltos de turismo realizados em governos anteriores, conferindo-lhes méritos e importância. O primeiro salto, iniciado na década de 30 e indo até os anos 70 do século XX, correspondeu a construção da imagem da Bahia e da baianidade, a criação dos primeiros órgãos públicos do turismo e a construção dos primeiros hotéis turísticos no interior e capital. A Bahia surge como um produto lítero-musical, fruto, principalmente, dos livros de Jorge Amado e das músicas de Dorival Caymmi. Seguidos por João Ubaldo, Gil, Caetano e tantos outros. Neste primeiro salto temos que contabilizar as grandes contribuições de não baianos, como Ari Barroso com a música “Baixa dos Sapateiros” e de Carmem Miranda que universalizou a figura da “baiana”.

O segundo salto, dos anos 70 a 2006, começou com o primeiro planejamento para o turismo feito por Romulo Almeida e sua equipe e continuado por um grande período sob a liderança de Paulo Gaudenzi. Foram os anos da infraestrutura turística, da promoção profissionalizada junto aos principais mercados emissivos, da internacionalização da imagem da Bahia. E, principalmente, da formação de um quadro técnico qualificado. Mérito de ACM neste item, que apesar de fazer abusivo uso político e pessoal da imagem que a cultura e o turismo criaram da Bahia, garantiu a Gaudenzi, por décadas, uma razoável faixa de autonomia, assegurando, também, prioridade técnica e financeira para o turismo e a cultura que acabaram por funcionar juntos numa mesma secretaria.

Tudo isso já foi dito por mim em vários outros artigos, palestras e entrevistas enquanto Secretario de Turismo.

O governador Jaques Wagner a partir de 2007 atendeu aos apelos da cultura e também, em menor medida, do turismo, para separar as duas áreas. O turismo ganhava pela primeira vez uma secretaria específica. Mas no parte e reparte a Secretaria de Turismo acabou ficando com a menor parte da estrutura administrativa e do orçamento. Operou sempre com menos de 0,5 por cento do orçamento do estado. O Pelourinho apesar de ser antes de tudo um sítio turístico da cidade e do estado, ficou com a Cultura.

O Terceiro Salto
Nesse quadro foi que formulamos a estratégia do Terceiro Salto de Turismo, baseada nos eixos da inovação, da qualidade e da integração econômica. Ao invés de tentar reinventar a roda procuramos dar continuidade ao que a Bahia já havia acumulado e preencher as lacunas deixadas pelos dois primeiros saltos. Fizemos render cada tostão do pequeno orçamento em parceria permanente com o trade turístico que participou de praticamente todas as decisões da Setur e da Bahiatursa. E também contando com uma equipe honesta e competente, aproveitando o quadro técnico encontrado e formando novos quadros para o turismo.

O eixo da inovação foi marcado por novos produtos, pelo fortalecimento de segmentos, e também por novos serviços. Dentre os novos produtos destacam-se o São João da Bahia, enquanto produto turístico, o GP Bahia Stokcar calendarizado por 5 e mais 5 anos, o turismo de vinho na região do Rio São Francisco, o Espicha Verão, a Semana de Diversidade acrescentada à Parada Gay, a Rota do Chocolate no sul da Bahia e o Salão de Turismo antiga aspiração do trade turístico baiano. Praticamente um novo produto por ano.

Ainda na área da inovação, e fazendo uma interface com o eixo da qualidade, implantamos novos serviços como o Disque Bahia Turismo 24 Horas em inglês, português e espanhol, considerado o maior e melhor call center turístico do Brasil. O programa Guias e Monitores que atendeu a mais de 200 mil turistas em 6 carnavais e nas Copas das Confederações e do Mundo. O portal Bahia.com, totalmente remodelado e com novos aplicativos para o São João, o Carnaval, Bahia Turismo e, inclusive, o primeiro aplicativo do país de interação com os turistas: o Reclame Turismo. São serviços inovadores que se somam ao maior programa de qualificação profissional da história do turismo da Bahia, com cerca de 20.000 pessoas qualificadas em 7 anos.  Este último foi realizado com recursos do Ministério do Turismo e governo do estado.

A qualificação profissional corresponde também ao eixo da integração econômica na medida em que possibilita a milhares de pessoas, especialmente de jovens, participarem da renda do turismo.

Aliás, no eixo da integração, situam-se também o programa de Cama-Café, habilitando residências e centros culturais como meio de hospedagem, o incentivo e o fortalecimento do Turismo Rural em que saímos de uma dúzia de empreendimentos em 2006 para 112 em 2013. A requalificação da Feira de São Joaquim, para a qual captamos 30 milhões de reais do Ministério de Turismo, e que promete ser um dos mais importantes pontos turísticos e culturais de Salvador.

Como se vê, são esforços que se interligam numa única direção estratégica de fortalecimento e da qualidade do produto turístico Bahia.

Investimentos em estrutura física foram completados por ações de caráter social e econômico. Com recursos do turismo (MTur e Setur) foram requalificados os destinos de Imbassahy e Morro de São Paulo. Foram recuperados também importantes prédios históricos como a Casa das Sete Mortes, a Igreja do Rosário dos Pretos e a Igreja do Boqueirão.

O fortalecimento do turismo étnico afro que valorizou a nossa cultura e recebeu milhares de turistas norte-americanos – mercado alvo desta ação - para conhecer centros culturais templos religiosos e eventos como a Festa da Irmandade da Boa Morte que reforçamos com o aumento do financiamento pela Setur/ Bahiatursa.

No eixo da qualidade podemos inserir, também, iniciativas nas áreas do planejamento e da gestão. Investimos em pesquisas sobre a economia do turismo na Bahia e implantamos o Observatório do Turismo um dos poucos no Brasil.
 
A Gestão e a Promoção
Considerando que a gestão municipal é um dos pontos mais frágeis da atividade turística no Brasil, criamos o primeiro Curso para Gestores e Dirigentes Municipais de turismo da Bahia.

Mas para captar recursos nas áreas federal e interestadual, é necessário demonstrar eficiência e qualidade na própria gestão. Nesse sentido vale ressaltar a aprovação em todas as contas da Setur, e em especial as contas de 2011, 2012 e 2013 da Bahiatursa apenas com recomendações do TCE. Inclusive a Bahiatursa foi tomada como modelo de prestação de contas para todos os órgãos do estado. A execução orçamentária foi alta em comparação com outros órgãos do estado. Em 2013, por exemplo, foi de 86% na Setur e de 78% na Bahiatursa (dados da Diretoria de Orçamento da Setur em 2014).

Abarcando todos os três eixos do Terceiro Salto do Turismo (inovação, qualidade e integração) temos o Prodetur da Baía de Todos os Santos projeto financiado em 60% pelo BID que deverá transformar a nossa BTS num novo produto do turismo náutico e cultural. O projeto não se limita apenas a estruturas físicas (atracadouros, bases náuticas, sinalização marítima), mas também qualificação profissional, recuperação do patrimônio histórico gestão municipal e ações socioeconômica de incorporação das comunidades ao projeto turístico.

Com relação à promoção turística, tarefa central da Bahiatursa há que se registrar o dado incontestável da Infraero: em 2006 tivemos nos três aeroportos nacionais do estado 11 milhões de desembarques. Em 2012 alcançamos 22 milhões. Claro que dentre os desembarcados, cerca de 50% é de não turistas. Mas esse percentual corresponde também aos números de 2006. Podemos afirmar então que dobrou no período de 2007 a 2012 o numero de turistas na Bahia.

Além do crescimento vegetativo, isso aconteceu também por conta de uma política de concentração de esforços promocionais nos principais mercados emissivos nacionais como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Brasília. Contribuíram também os eventos relacionados aos novos produtos turísticos da Bahia e as ações diretas realizadas com operadores e agências de viagem e, obviamente, as melhorias do produto Bahia. Quando dizíamos a organizadores de eventos que a Bahia possuía um call center 24 horas, em 3 línguas, seus olhos brilhavam.

Aumentamos nos primeiros anos o número de voos regulares e charters internacionais. Colocamos para funcionar aeroportos implantados nas gestões anteriores, captando voos regionais para Lençóis, Valença e Paulo Afonso, numa ação articulada com as secretarias e Transporte e Fazenda, que reduziu a alíquota do ICMS sobre o querosene de aviação.

O que faltou
Claro que nem tudo foi sucesso na gestão do turismo entre 2007 e 2013, quando eu e Antônio Carlos Tramm fomos secretários. Não tivemos, por exemplo, força e prestígio para colocar a Sucab para funcionar no Centro de Convenções onde só aquela instituição poderia atuar em obras estruturais. Não conseguimos sensibilizar o governo para a própria Bahiatursa decidir autonomamente sobre a verba de publicidade para o turismo. Não conseguimos sinalizar todas as estradas e atrativos das 12 zonas turísticas do estado, como fizemos para a Costa do Dendê, a Costa do Descobrimento e a Costa do Cacau. Não conseguimos ampliar o programa “Viagem por um Mundo Chamado Bahia”. Não tivemos êxito no esforço para implantar o projeto Casa da Alma da Bahia na antiga sede da Embasa, na Praça Castro Alves. E, finalmente, não conseguimos convencer o governador e o secretário de Planejamento sobre as vantagens de realizar uma dupla ação de grande profundidade para o turismo e para a cultura na Bahia: transferir o Parque de Exposições para Feira de Santana criando ali um destino turístico baseado na agropecuária e na cultura rural e, ao mesmo tempo, implantar na Av. Paralela a Cidade da Música Dorival Caymmi com uma arena para 70 mil pessoas, casas de espetáculo, escolas de música e lutheria, espaços para a economia criativa dos blocos afros, das quadrilhas de São João e dos grupos de samba, além de espaços para feiras, formaturas, suprindo as limitações do Centro de Convenções.

Mas deixamos na prateleira projetos estruturados e licitados em varias áreas do turismo. O Oceanário de Salvador está com seus estudos de localização, viabilidade técnica e econômica, ambiental, volumetria e impactos de tráfego e vizinhança, prontos. A Estrada do Chocolate Ilhéus Uruçuca com o convênio assinado pelo próprio governador Jaques Wagner. Sinalização turística da Costa das Baleias e da Chapada Diamantina. Atracadouro de Camamu. Orla de Guaibim. Terminal Náutico do Cais da Baiana. Centro de Qualificação Profissional da Costa dos Coqueiros. Terminal Turístico Rodoviário de Lençóis. Requalificação da Passarela do Álcool em Porto Seguro. Projeto Urbanístico de novo acesso para o centro de Lençóis. Projeto executivo de atracadouro e pontos de apoio ao turismo em Maraú e Saquaira. Casa do Carnaval no Nordeste de Amaralina. Ampliação e implantação do pavilhão de exposições do Centro de Convenções em Ilhéus. O projeto de terceirização do Centro de Convenções de Salvador preparado pela Sefaz e licitado pela Desenbahia.

E isso foi apenas o início do Terceiro Salto do Turismo, estratégia formulada para ir até o ano de 2020.

* Domingos Leonelli é ex-secretário de Turismo e ex-deputado federal

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